Acordou um pouco sonolento. Dormiu muito pouco ultimamente.
Entre o seus dentes havia a carne que tinha mascado ontem.
Quanto mais se mastiga carne, mais ela perdia seu gosto salgado, ficando insosa e mole.
O hospício onde morou não o alimentavam direito, nem davam o que ele gostava.
Carne, doce carne humana.
O diretor o adorava, era divertido dar os pacientes mais inúteis pra ele, seus olhos adquiriam um brilho, ao ver todos se aproximando. Sua boca enchia-se de saliva, gritos, as mordidas dele eram profundas, compulsivas e selvagens, suas mandíbulas rasgavam pele e carne, as vítimas debatiam, gritavam, sofriam, mas nada adiantava. Uma a uma ele as devorou, lambendo os beiços, em sua gula demoníaca.
Chegou ao ponto que seus companheiros de confinamento não lhe serviam mais.
Começou a atacar os enfermeiros, estes vinham limpá-lo e trocar sua roupa suja.
E da mesma maneira morriam. Devorados.
Colocaram uma enorme coleira por volta do seu pescoço, a corrente fina, mas forte o suficiente para contê-lo.
Logo sua garganta ficou dolorida, marcada numa coloração vermelha que tanto adorava.
Não o conteve.
Colocaram uma enorme camisa de força.
O jovem estava dando muito trabalho, os socos que recebia, os chutes que levava, só o faziam rir, rir insanamente de fome, enquanto sentia seu corpo devorá-lo por dentro.
E então o puxaram daquele quarto. Estava coberto por suas próprias fezes e urina, o cheiro era insuportável, o trancaram no banheiro, onde tranquilamente tomou um delicioso banho.
O diretor estava farto. Apenas gastava dinheiro com ele.
Então um estranho de cartola apareceu, oferecendo comprá-lo.
O diretor aceitou de antemão. Só que teria uma coisa. Devia deformá-lo.
Jogaram-no em seu quarto, já limpo, com outra camisa de força, eles amarraram sua coleira na parede.
Puxaram sua fronte pro alto, o diretor olhava tudo, tirou um estranho frasco vermelho.
O líquido caiu como uma cascata, atingindo a parte direita do seu rosto, sua pele queimava como fogo, enquanto seu corpo contorcia em desespero.
O rapaz agora estava com a carne da bochecha exposta, enquanto as bordas do ferimento estavam levemente negras.
Deixaram ele lá, sozinho e desolado por 4 dias.
Quatro dias de fome. Depois dois enfermeiros deixaram uma bacia a sua frente.
Coberta de membros cortados e entranhas, sangue fresco, não havia sequer uma mosca.
Seu corpo estava fraco e muito desnutrido, em quatro dias de jejum, seus ossos ficavam um pouco evidentes debaixo da camisa de força.
Como um verme se arrastou e como um cão se alimentou, com pressa, preocupação e amor.
E foi assim que comportou dia após dia, como um cão comendo carne que o dono deixou. Era tanto adorável como horrível e no final ele arrotava e dizia uma única frase. "Muito obrigado".
A besta azul foi pega um mês depois, seu ferimento nunca fora tratado, era uma deformação patética, se comparada com as dos outros, porém, diferente deles, sua mente só pensava em uma única coisa.
Comer.
E fez isso para seu público. Comeu tudo que lhe deixavam no prato. Coisas frias.
Ele era besta azul do circo do bosque escuro.
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