Um homem de capa preta entrava no cemitério, era noite de lua cheia, mas nuvens escuras deixavam o céu da noite vazio e sem estrelas, o homem caminhou por entre os túmulos como se soubesse exatamente onde queria ir mesmo estando totalmente escuro no cemitério. As passadas firmes esmagavam com frieza as folhas secas que voavam das árvores ao redor do cemitério e caiam no chão arrastadas pelo vento, depois de algum tempo ele parou diante de um túmulo e fitou-o por alguns instantes. No túmulo estava escrito as seguintes palavras: “Aqui jaz Pedro Marcos de Liberta (o estranho da rua)”.
Quando o estranho homem retirou o capuz que cobria seu rosto uma rajada de vento gélido passou pelo cemitério e lá no céu as nuvens se dissiparam deixando a lua iluminar as sombras do local. O vento soprava cada vez mais forte e a cada nova rajada ele trazia com sigo mais e mais folhas, o homem continuou fitando o túmulo a sua frente e então algo surpreendente aconteceu, de traz das folhas que passavam voando pelo túmulo surgiu uma maçã, mas era diferente não era uma maçã comum, era uma maçã negra.
O estranho tomou-a em mãos e a ergueu para o alto, um raio caiu sobre o túmulo nesse instante e transformou a escuridão em claridade total. A noite virou dia e Paulo acordou com um sobressalto, olhou para a janela e viu que já era de manhã, ficou feliz de ter acordado do pesadelo que tivera e se virou, quando o foco dos seus olhos se ajustou e a imagem se tornou nítida Paulo pulou para fora da cama, assustado. Sobre sua escrivaninha estava a origem do susto, uma maçã negra.
A esposa de Paulo não estava, pois estava trabalhando então como sempre ele teria de fazer seu café da manhã sozinho. Ele abriu o armário da cozinha revistou potes atrás de bolachas e vasculhou as panelas, mas não encontrou nada.
—Mas que diabos está acontecendo aqui, poderia jurar que tinha ido ao supermercado ontem mesmo – disse ele sozinho na cozinha.
Ele coçou a cabeça e então seus olhos deram de encontro novamente com a estranha maçã, ela estava sob a mesa da cozinha, isolada, sozinha e praticamente chamando para que alguém fosse come-la. Paulo pegou-a e a observou de todos os lados possíveis, algumas perguntas pairavam sobre sua mente: “Será que isto realmente existe ou será que estou sonhando?” mas o estomago começou a falar mais alto e com receio ele levou a maçã a boca, demorou a dar a mordida mas quando a deu por completo um sabor doce indescritível invadiu sua boca e ele começou a devorar a maçã como se não houvesse amanhã, em pouco tempo a maçã já não existia mais e uma vontade imensa de comer outra maçã daquela invadiu seu corpo, e então ele perdeu o controle e foi dominado por um instinto selvagem e demoníaco. Descontrolado ele arrombou a porta da casa com um chute meio estranho e saiu para o seu gramado, atravessou a rua correndo e viu por perto no gramado de outra casa o seu vizinho Jorge, sua mente praticamente não pensou mas seu corpo disparou a correr pelo gramado na direção de seu vizinho.
—Ei! – Jorge gritou. – Está tudo bem com você... – Para Jorge, Paulo era apenas um vizinho que devia estar com algum problema para estar correndo daquele jeito, mas para Pulo, Jorge era apenas uma maçã negra em tamanho gigante e suculenta.
Paulo avançou para cima de seu vizinho como um leão e lhe mordeu o pescoço, ali perto deste ato de canibalismo extremo um ser bruxo levava sobre o asfalto cinzento, Pedro Marcos de Liberta ou o estranho da rua, como era conhecido, marcava presença para ver com os próprios olhos o resultado do fruto da maçã que criara com tanto trabalho. Na década de 50 ele era famoso por ser um mendigo que assustava todo mundo com suas aparições misteriosas e suas sombrias previsões sobre o futuro, mas então em uma noite silenciosa e fria uma gang do bairro decidiu por fim nessa historia oferecendo uma maçã com um veneno letal para ele comer, mal sabia ele sobre as más intenções que eles tinham, e acabou comendo a maçã envenenada, no dia seguinte foi encontrado morto em um beco da cidade e mesmo com a má fama que tinha foi enterrado como uma pessoa digna de tal coisa, mas hoje sessenta e um anos depois do ocorrido sua alma voltou para acertar as contas na mesma moeda.
Enquanto devorava seu vizinho, Paulo escutou um grito agudo de criança e ergueu a cabeça, do outro lado da janela não muito longe estavam à esposa e filha de Jorge que assistiam a cena aterrorizadas, para elas Paulo era um estranho cruel que acabara de desfigurar o corpo de seu ente querido, mas para Paulo aquelas pessoas indefesas atrás da janela eram apenas duas maçãs negras grandes e suculentas.
Fonte: *.* Contos De Terror *.*
14 de mar. de 2014
A Maçã Negra
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