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17 de ago. de 2013

A Mão no Ombro


Nunca acreditei no sobrenatural, mas confesso lhes que hoje tenho dúvidas sobre esse tão polemico assunto. Tudo isso por causa de uma enigmática foto!
Preste atenção, esse é um relato real.

Aconteceu quando eu ainda tinha dezesseis anos, mas ainda lembro como fosse ontem.

Acompanhado de meus pais, viajei até Irati, onde moravam alguns de meus parentes. Fomos para uma confraternização de familiares. Carnes, bebida, música e muita alegria. Era sempre assim, sempre. Bons tempos.

Fiquei dois dias por lá, e foi só na segunda noite que dormi na casa desses meus parentes, que o assunto fantasmas foi tocado.

Passei a noite em uma sala de estar, com um colchão estirado no chão. Próximo de mim apenas um de meus primos, Gabriel, também conhecido como O Mala.

- Thomas, tu sabes o que aconteceu nessa sala não?

Olhei para ele e já imaginei:

Lá vem Gabriel com suas historinhas! O garoto sempre aprontava dessas, tentava deixar-me com medo, mas nunca conseguia.

- Não, não sei Gabriel. Comentei, eu já estava de olhos fechados, tentando alcançar o tão esperado sono, pois o dia havia sido cansativo.

- Hum... Bom, não sei se é verdade, mas a mãe conto que os antigos donos daqui, perderam uma pessoa nessa casa, um velho, ele se chamava Aguiar e morreu do coração em uma cadeira que ficava exatamente nessa sala.

- Lorotas Gabriel, lorotas! Comentei sem paciência para ver se ele parava de me encher.

- É a primeira vez que durmo aqui primo... nem gosto de ficar nesse comodo a noite, pode notar como meu quarto é bem longe... Na verdade ninguém gosta, por que você acha que aqui só tem essa mesa e mais nada?

Apenas escutei, sabia que Gabriel iria continuar com a falação.


- E o pior não é isso Thomas, o tal do velho foi velado aqui, parece que o caixão ficou bem ai no meio, onde tu ta dormindo.

Eu não queria, mas ao ouvir aquilo senti um calafrio. Virei para um dos cantos e me apertei no meio das cobertas.


- Boa noite Gabriel. Eu disse com uma voz de quem já setava quase dormindo.

- Boa noite...

Depois da resposta de meu primo veio o silêncio. Por algum motivo o silêncio era assustador. Tentei me distrair pensando em algumas coisas, mas sempre a história do velho me voltava à cabeça.

Gabriel era um desgraçado, daquela vez conseguira me assustar.


Dormi e naquela noite sonhei...

Sonhei que no meio da noite eu ficava deitado de barriga para cima e ao abrir os olhos dava de cara com um caixão bem acima de mim.
Meu corpo paralisava e então eu via o caixão tremendo, balançando.
Até que o velho descia dele e me encarava.

Aguiar no meu sonho tinha uns duzentos anos. Sua pele era podre e descascada. Na cabeça apenas alguns tufos de cabelo. A boca era banguela e o nariz coberto de verrugas.

Eu sentia o cheiro do velho, sabe, aquele cheiro de urina podre, misturado com fezes e talco... o cheiro de idosos doentes. Sim, eu sei que você sabe! Era a situação em que eu me encontrava.

O morto enquanto me fitava disse com uma voz fraca e rasgada.

- Sai dai, deixe eu descansar em paz seu pestinha ou eu lhe arranco os olhos!

Começou a avançar em minha direção, se agachou no chão e já estava bem próximo de mim quando eu no sonho urinei nas calças. Sim, foi só no sonho.

Senti aquela mão, aquela mão grudenta e pegajosa bem em cima de meu ombro. Foi horrível.

O defunto parecia não aguentar e de repente ele desabou em cima de mim, desabou como se tivesse morrido outra vez. Apavorado gritei e foi ai que acordei.

Naquela manhã nós organizamos as coisas para voltar à capital. Não contei para meu primo sobre o pesadelo, mas ele sorrindo para mim em certo momento me perguntou se eu dormira bem.

- Sim.

Menti, menti para não fazer ele rir de minha cara e comemorar o fato de sua brincadeira ter funcionado.

O tempo passou e pouco antes de ir embora toda a família se reuniu para uma foto, o lugar escolhido foi a sala de estar, pois era lá que havíamos acabado de almoçar.

Todos se agruparam e a foto foi tirada, era mais uma entre as outras.

Fui pra casa pensativo e as coisas seguiram como de costume. Até que em uma sexta-feira, quase uma semana depois da viagem, veio a surpresa.

Meu pai e minha mãe sentados no sofá de minha casa, sorriam e riam ao ver as fotos que tinham acabado revelar.

Eu já me esquecera de tudo. Em minha casa me sentia seguro e sem tempo para pensar em assombrações

Foi então que ouvi um som de lamentação vindo da sala e depois a breve conversa.

- Poxa, logo essa que era para ser uma das mais bonitas! Disse meu pai.

- Olha isso amor, ficou parecendo uma mão. Disse minha mão surpresa.

- Verdade, acho que vou revelar essas fotos em outro lugar, isso é problema de impressão.

- Thomas, vem ver. Gritou minha mãe.

E fui, cheguei lá e os dois entregaram a foto em minhas mãos.

Era a foto da família reunida, logo após o almoço.

Olhei para todos, tudo estava certo em suas expressões, até eu havia ficado bonito. Foi só depois de prestar melhor atenção que eu notei os problemas naquela que era para ser uma bela fotografia.

Atrás de todo o pessoal, havia uma fraca mancha negra, que até parecia uma sombra.

E o pior, próximo de onde eu estava a sombra era ainda mais forte, parecia se esconder atrás de mim. Quando vi aquilo a história do velho Aguiar voltou com tudo em minha cabeça e não era para menos, pois em um de meus ombros repousava uma estranha mão branca, a mão parecia vir do além. Lembrei do pesadelo e em minha memória confirmei, aquela só podia ser a mão do morto! Calafrios e mais calafrios!

Meus pais guardaram a foto, o tempo passou e com a ida deles para o outro mundo eu ainda mantenho o sobrenatural artefato guardado.

As vezes eu encaro a foto, as vezes eu mostro para alguns amigos. Especialistas já tentaram comprar ela de mim, mas por algum motivo eu nunca deixei. Também nunca retornei a casa de meus primos, até hoje tenho um pouco de medo e as vezes, a noite, quando eu pego a fotografia para estuda-la, tenho a leve impressão de sentir um peso em um de meus ombros, só que agora eu não ligo, deve ser por que cresci e já estou velho, acho que os fantasmas nem me assustem mais...

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