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24 de abr. de 2014

O Híbrido

O  meu rosto estava grudado a folhas secas, e a terra entrava nas minhas unhas, machucando minha carne. Olhei em volta e me apavorei imediatamente. Uma floresta.
O que acontecera noite passada? Lisa e Cauê tinham feito o estúpido jogo do copo. Típico de adolescente, você sabe. Apenas me lembro de brigas e muito sono. Muito sono.
E aqui estou eu, sozinha com os corvos e assustada demais para conseguir andar. Os gritos dos corvos ecoavam pela floresta e terminavam no vácuo. O céu estava puramente cinza, com manchas em preto, escuro como um beco no meio da noite. Minha cabeça e meus pés estavam doendo, não esquecendo dos dedos doloridos. Barulhos de todos os lugares, de todas as direções. Gravetos, corvos, urros, terra molhada.
“Que diabos está acontecendo aqui?”, sussurrei. E então, eis que aconteceu.
Uma grande pata sobressaiu das raízes na floresta densa. Aquilo não era exatamente um cão, mas sim, era algo parecido. Enorme, para mais informação. O tamanho de um homem era aquela criatura que curiosamente andava sobre as quatro patas. Grande híbrido.
No desespero, me joguei para trás. Tentei ao máximo possível ficar longe, mas a floresta colaborava para me deixar encurralada.
Toda a floresta se silenciou. Havia apenas eu e a criatura.
Me olhando, me analisando. Me olhava com fome, com quase malícia nos grandes olhos vermelhos sangue. E lá eu podia ver, todas as almas que aquele híbrido agarrou e saciou sua miséria. Eu poderia sentir a dor, consumindo minha carne, meu próprio espírito.
“Vocês invocaram… A curiosidade nem sempre é para ser seguida, humana.”, pela primeira vez eu ouvira uma voz tão irada. Tão rouca e certamente, não era apenas uma voz. Eram sussurros junto.
Sem nenhuma previsão, ele veio. Rápido e brusco, direto no pescoço. Uma dor profunda me invadia, minha alma. Ele a tomou.
E eu estava suando. Minha cama amarrotada e quente. A janela aberta me dava vista para o céu, escuro e sem estrelas. Uma noite solitária.
“Foi só um sonho. Apenas um sonho”, repetia em minha mente. Mas havia algo, algo que me fazia não acreditar nisso. Talvez, seria aqueles enormes olhos sangue me olhando pela porta do armário. Eu sentia o enorme sorriso que a criatura esboçava, pronta para me pegar desprevenida, sozinha no meu quarto escuro.
 Cuidado com seu armário, ninguém sabe o que pode se esconder lá, não é mesmo?

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