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31 de mai. de 2014

Crítica 9

X-Men é conhecida por ser a série de super-heróis com a cronologia mais confusa no cinema. Três filmes principais, mais um prelúdio e dois longas de Wolverine foram produzidos com incoerências entre eles grandes demais pra listar. O primeiro X-Men era parte da primeira leva de filmes de super-heróis, afinal, quando a preocupação ainda era se colantes funcionariam para o grande público ou não. Nem passava pela cabeça dos executivos a questão da criação de um universo coeso para super-heróis nas telas.
Quatorze anos depois de Wolverine ter desembainhado as garras pela primeira vez no cinema, o momento é completamente distinto: os colantes funcionaram - e muito! - e o público quer algo mais do que a tradicional trilogia de filmes que foi a regra tanto tempo. Mas como tornar a salada super-heroica de X-Men algo coerente outra vez?
A resposta é clara para qualquer nerd: viagem no tempo! Uma pequena mudança no passado e você tem uma desculpa para apertar o botão de reset e recomeçar sem amarras. Melhor ainda... os mutantes têm nos quadrinhos uma das melhores histórias de viagem no tempo já criadas, Dias de um Futuro Esquecido, que inspirou até James Cameron e seu Exterminador do Futuro.
O sétimo filme dos filhos do átomo, X-Men - Dias de um Futuro Esquecido pega a premissa básica da história em quadrinhos e a adapta à realidade confusa da franquia cinematográfica. Na trama, depois do assassinato de um industrialista das armas, Bolivar Trask (Peter Dinklage), o governo dos EUA aprova a criação de um exército de robôs caçadores de mutantes, os Sentinelas. No futuro desolado, uma pequena célula de X-Men resiste à ameaça e cria um plano para salvar sua raça: enviar a consciência de Wolverine (Hugh Jackman) de volta aos anos 70 para impedir o evento, mudando o rumo da história.
Duas gerações de X-Men (a clássica e a de X-Men: Primeira Classe) são reunidas nesses dois momentos temporais, juntando elencos (há até uma cena com Patrick Stewart e James McAvoy, os dois professores Xavier) e ignorando os eventos que seriam inexplicáveis mesmo com toda a criatividade dos roteiristas (como as cenas pós-créditos de X-Men 3 e X-Men: Origens - Wolverine, ignoradas aqui). Sobram explicações e teorias para justificar tudo isso e o resultado é decente, ainda que não sobreviva a qualquer escrutínio de mais de 30 segundos.
A ambientação setentista começa bastante divertida, com referências de thrillers e filmes de assalto da época, no melhor estilo exploitation, com músicas bem selecionadas e dando um ar despretensioso à aventura. Mas ao final, o que melhor funciona em X-Men - Dias de um Futuro Esquecido é o que nunca deixou de funcionar nos quadrinhos - mesmo nas piores fases -, as interações entre os personagens e as cenas de ação.
De volta à cadeira do diretor que desocupou depois de X-Men 2Bryan Singer sabe como coordenar um falatório e extrair bons momentos do ótimo elenco. Já o combate - especialmente o do futuro - prende a atenção especialmente por apresentar mutantes cultuados, como Blink (Fan Bingbing), Mancha Solar (Adam Canto), Bishop (Omar Sy) e Apache (Booboo Stewart); e coreografar poderes e habilidades em painéis dignos das páginas da Marvel. Já o velocista Mercúrio (Evan Peters) surpreendentemente rouba a cena em uma das sequências mais inspiradas do longa.
Apesar do esforço, porém, a Fox repete os mesmos erros do passado. Diferente do brilhante Primeira Classe, que priorizava uma excelente história para aproveitar devidamente o elenco, X-Men - Dias de um Futuro Esquecido está muito mais preocupado com a limpeza narrativa que a trama proporciona. O filme parece mais uma desculpa para aposentar o elenco antigo e trazer novos atores à franquia, aproveitando o núcleo de Michael Fassbender (o Magneto), Jennifer Lawrence (a Mística, em versão com maquiagem simplificadíssima) e McAvoy, do que uma aventura à altura dos 50 anos de história dos mutantes.
Além disso, a necessidade de reviravoltas desnecessárias engessa mais uma vez a franquia. Mostrar o futuro corrigido era mesmo necessário já que a nova fase nem começou e já conhecemos seu final? A cena pós-créditos não poderia ter alguma relação efetiva com o que vimos? E pior... A cena conclusiva, que até colocaria o trem de volta aos trilhos, no intuito de dar um momento "pegadinha" para o público, volta a mostrar que os produtores não têm a menor ideia do que fazer a seguir. São coisas assim que dificultam a unidade da franquia, prenunciando mais uma fase de confusão nos X-Men das telas.
Certas coisas nem viagem no tempo corrige, aparentemente.

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