Em um sábado a tarde, eu e meu amigo Matt nos reunimos em minha casa para terminar um trabalho escolarcomo já havíamos combinado.
Minha mãe estava organizando uma venda de garagem e pediu para que fossemos ao sótão e pegássemos algumas coisas que poderiam ser vendidas por um bom preço, raramente íamos lá por conter muitas coisas antigas de nossos avós e bisavós que viveram anteriormente naquela casa, então o lugar parecia um pouco sombrio às vezes. Apesar do meu receio (provavelmente encontraríamos diversos inquilinos como ratos e alguns insetos, além da poeira acumulada durante anos), acabei cedendo ao pedido, vasculhamos o local durante horas, encontramos algumas coisas
sem
muito valor como alguns livros com páginas faltando, dois telefones velhos, um ferro que pesava por volta de 5 kg e alguns discos que meu pai havia comprado em uma loja há algum tempo atrás amontoados em uma sacola (e deve ter permanecido assim desde sua compra já que nunca o havia visto escutar nenhum deles), Matt mencionou ser fã de algumas das bandas estampadas sobre os discos, então emprestei-os a ele. Encontramos também uma câmera antiga, tiramos uma foto para ver se ainda funcionava e a botamos junto com o resto. Entregamos as coisas para minha mãe e continuamos nosso trabalho.
Uma semana depois, a polícia apareceu em minha casa e me fez algumas perguntas sobre Matt e onde eu estava na noite passada. Fui obrigado a responder e quando questionei o porquê daquelas perguntas fui simplesmente ignorado. Não entendi muito bem mais simplesmente ignorei, eu poderia simplesmente perguntar a amanhã.
Porém isso não aconteceu, no dia seguinte ele faltou à escola, então resolvi ligar em sua casa para perguntar se alguma coisa havia acontecido, fui atendido por sua mãe e ao perguntar por ele, a mulher ficou em silêncio por alguns instantes e respondeu de maneira rápida: “Ele morreu” e desligou o telefone, de início pensei ser uma brincadeira, por que sua própria mãe falaria de maneira tão fria sobre a morte de seu filho e desligaria o telefone? Porém, logo me passou pela cabeça que talvez ela ainda estivesse em choque por aquilo ter acontecido a muito pouco tempo (afinal, eu mesmo o havia encontrado a poucos dias).
Recusando-me a pensar na possibilidade de que isso realmente tivesse acontecido, fui até a casa de Matt e toquei a campainha. O medo de que talvez aquilo fosse verdade se concretizou, sua mãe atendeu a porta chorando. Apesar do grande choque de saber que meu melhor amigo havia morrido. Acalmei-me e com muita insistência, consegui que ela me dissesse oque havia acontecido.
Segundo ela, Matt andava estranho há alguns dias, passava o tempo inteiro trancado em seu quarto e não respondia na maioria das vezes que ela o chamava, e quanto respondia era extremamente grosso. Depois de voltar do trabalho as 19h como sempre fazia, a mãe de Matt percebeu algumas gotas de sangue que iam da sala até o quarto de Matt, e ao entrar no quarto o avistou deitado em uma poça de sangue. Conforme ela me contou, a polícia disse que Matt recebeu três facadas na barriga e uma na cabeça, não havia sinais de arrombamento na casa. Após contar sobre os estranhos comportamentos de Matt de uns tempos para cá, a polícia concluiu que ele provavelmente estava sendo ameaçado (já que nada havia sumido da casa) e ao atender a porta foi morto. Antes de eu ir embora, sua mãe me entregou a sacola com os discos que eu havia emprestado a Matt há uma semana.
Ainda atordoado, voltei para casa, não conseguia compreender porque alguém teria feito aquilo, Matt nunca deu motivos para alguém odiá-lo a ponto de cometer um ato desses. Passei o dia ouvindo os discos velhos de meu pai, alguns eram bem ruins, entre eles um que tinha nada estampado e ao escuta-lo podia-se escutar alguns sussurros impossíveis de se entender, aquilo me deixou intrigado, então ouvi até o final, o disco durou mais ou menos e no final eu consegui escutar “três dias”, tentei recomeçar o disco para entender oque era dito desde seu início, mas isso não foi possível pois o disco simplesmente não fazia mais som nenhum.
No dia seguinte enquanto ia para o meu quarto depois da escola, encontrei a câmera que havíamos entregado à minha mãe (junto de outras coisas que ela provavelmente não conseguiu vender), observei-a por alguns segundos e lembrei da foto que eu e Matt havíamos tirado na última vez que nos vimos e fui à uma lojapróxima para revela-la. Alguns minutos depois o homem que havia me atendido me trouxe a foto revelada.
Enquanto ia para casa analisei uma coisa estranha na foto, no fundo do cenário havia uma menina de cabelos pretos caídos sobre seu rosto. Desesperado, corri para casa, eu não sabia oque pensar sobre aquilo, eu queria poder dizer que a foto estava borrada e aquilo ao fundo não fosse nada além de um borrão, mas não, a foto estava bem nítida e eu sabia oque eu estava vendo.
Ao chegar em casa mostrei a foto a minha mãe na esperança de que ela concordasse comigo e percebesse que havia alguma coisa errada, mas para minha surpresa, ela pediu para que eu me acalmasse e disse que não havia nada na imagem além de Matt e eu, ao contar oque eu via, ela ficou me olhando, provavelmente achava que a morte de Matt tinha mexido com meu estado mental e disse que eu precisava descansar, perguntou se eu queria que ela faltasse ao trabalho e ficasse comigo, eu falei que não precisava e disse que estava bem (oque era mentira). Fui para meu quarto e continuei observando a foto, nada havia mudado, fitei-a por alguns minutos até que adormeci.
Acordei no meio da noite e fui ao banheiro, por esse breve momento eu finalmente tinha esquecido sobre a foto e a morte de Matt, mas ao olhar no espelho do banheiro percebi uma coisa estranha, na janela podia-se observar um rosto, um rosto que eu posso afirmar com certeza: não era humano, e ao olhar diretamente para a janela não havia nada lá, por um lado fiquei feliz por ter só imaginado aquilo, mas por outro fiquei consumido de medo quando o pensamento de que aquilo realmente tivesse acontecido passou pela minha cabeça, não tive muito tempo para pensar sobre isso, pois neste mesmo momento senti mão de minha mãe em meu ombro e sua calma respiração sobre minha cabeça, oque me trouxe uma enorme sensação de conforto. Só aí me lembrei de que ela não estava em casa. Saí correndo sem prestar muita atenção no caminho, oque resultou em minha queda. Acordei em um hospital, com minha mãe dormindo em uma cadeira ao meu lado, ao me mexer ela acordou e me abraçou chorando, disse que me encontrou inconsciente e com um ferimento na cabeça, em seguida perguntou oque tinha acontecido, com medo de que ela novamente duvidasse da minha sanidade, me vi obrigado a mentir e disse que não me lembrava (oque era bem justificável já que eu tinha batido a cabeça).
Na manhã seguinte já fui liberado e após ouvir os conselhos e advertências do médico fomos para casa.
Após a saída do hospital comecei a ver constantemente a mesma menina de cabelos pretos, e toda vez que eu a via ela parecia estar mais perto.
No dia seguinte comecei a ouvir passos, constantemente enquanto andava. Durante a noite passei a ouvir sussurros.
Aquilo finalmente estava começando a afetar meu psicológico, eu não conseguia mais sair de casa e nem conversar com ninguém.
Comecei a pensar que talvez estivesse acontecendo comigo o mesmo que aconteceu com Matt. Comecei a pensar no que tinha feito esse fenômeno começar, então me lembrei dos discos que havia emprestado a Matt, e que agora estavam comigo, e do estranho conteúdo de um deles, que dizia palavras que não consegui identificar. Então fui a sua procura e ao escuta-lo novamente, ouvi: “hoje é seu dia”, aquilo me causou um angustia profunda, como o disco havia sido alterado? E neste mesmo momento, ouvi passos atrás de mim, inutilmente perguntei se era minha mãe, e os passos se aproximavam mais e mais até ficarem bem próximos e cessarem. Sem muitas alternativas, peguei o disco e arremessei-o contra a parede, o destruindo. Imediatamente senti uma sensação de alívio, tomei coragem e olhei para trás, não havia nada.
Finalmente tudo tinha acabado, o que quer que fosse aquilo havia sido destruído junto com o disco. Ou era oque eu pensava até chegar em casa e ver minha mãe morta esfaqueada. Ela segurava uma câmera na mão.
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