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9 de jun. de 2014

O Coelho e o Jardim

Primeiramente peço desculpas a você, leitor. Tudo que direi aqui pode no máximo ser considerado o pesadelo de alguém que perdeu o juízo e de fato talvez não passe disso. Deixo claro que ao menos para mim isso não é um conto, ou um delírio. Aconteceu e acontecerá novamente.
Dito isso vamos aos fatos. Meses atrás qualquer um diria que eu era um homem estupidamente normal. Mais um medíocre que pensava ser a última bolacha do pacote com toda minha cultura, minhas opiniões, língua afiada e desinteresse por tudo que fosse muito comum, com exeção de futebol que desde sempre foi minha grande paixão. Meu pai me levava para ver tantos jogos quanto o dinheiro e o tempo dele permitissem, ou seja, raramente eu ia. Eu amava tanto o barulho, a torcidas, as comememorações e estar com meu pai.
Meu primeiro contato com coisas que não deveriam nem mesmo existir aconteceu em outubro passado, quando eu saia de um jogo com a pessoa que eu acreditava que passaria a vida ao meu lado. Laura, dos olhos azuis acesos e um sorriso que hoje faz muita falta.
Naquela noite infeliz, peguei um ônibus com a Laura pra levá-la em casa. Era um caminho curto, o cobrador conversava animado com o motorista enquanto Laura e eu sentados atrás do banco mais alto aproveitávamos que não haviam outros passageiros. Preocupado em não ser indiciado por atentado violento ao pudor eu olhava em volta com um nervosismo cômico. Laura ria e me pedia para ficar calmo, e eu até estava conseguindo.
Então quando o ônibu parou em um farol olhei pela janela e vi sob a luz de um poste o vulto grotesco de algo que parecia ser um homem com mais que dois metros de altura, vestido em um belo terno. Ele olhava para mim com uma cabeça marrom de coelho com o tamanho de uma cabeça humana normal. Ao entender o que eu estava vendo soltei um grito nervoso que assustou Laura e fez o cobrador parar para ver o que acontecia. Provavelmente achou que era apenas outro casal de bêbados na noite e deixou para lá. Eu queria explicar para Laura o que tinha visto, mas subtamente percebi que podia ser simplesmente alguém com uma ótima fantasia de Halloween. Me senti bobo por me assustar tanto por tão pouco ao mesmo tempo que algo muito primitivo em mim gritava dizendo que os olhos daquela cabeça de coelho me viram e voltariam.
Passaram dois meses e eu nem lembrava do homem com cabeça de coelho. Era Dezembro e eu estava no enterro do Pedro, um grande amigo meu. Laura estava lá comigo, arrasada de um jeito que me deixou em uma mescla poderosa de pena, compreensão pois eu mesmo amava muito o Pedro e um ciúmes que eu me recusava a sentir. Se fosse eu ali sendo enterrado talvez ela não se desesperasse tanto.
Pedro, apesar de três anos mais velho que eu era para mim um irmão mais novo irresponsável. Era a extroversão em pessoa e conquistava dezenas de mulheres em poucos dias com aqueles olhos claros e sorriso de propaganda de margarina. Viciado em mulheres, noites, farra. Viveu muito, muito rápido. Uma briga boba em uma balada por ele estar pegando mulher alheia levou ele a um beco onde abriram o estômago dele de um lado a outro. A mídia amou. Segundo alguns sites de notícia até em gay transformaram ele.
Começou a escurecer e todos foram embora exceto Laura e eu. Olhando em volta percebi que longe de onde eu estava, perto de estátuas de anjos e túmulos quebrados andava um homem alto e magro. A cabeça era parecida com a cabeça de um pássaro com bico pequeno e grandes olhos negros, como os do coelho. Senti meu coração disparar, não era Halloween e não tinha porque alguém andar com uma fantasia tão medonha ali. O homem, ou sei lá o que era aquilo olhou para mim e correu para perto de algumas árvores, saindo do meu campo de visão.
Sem
 pensar corri atrás dele, deixando Laura sozinha sem explicações. Eu precisava saber se aquilo era mesmo alguém fantasiado ou se eu estava enlouquecendo. Me perdi no cemitério e tive a impressão de que dezenas de pares de olhos animalescos brilhavam em minha direção. Até mesmo as árvores pareciam se mover de uma forma não natural, contra o vento, como se fossem braços. Concluí que eu estava delirando, por causa do choque de perder o Pedro de uma forma tão brutal. O medo do coelho criou toda essa ilusão e logo passaria. Eu estava errado em cada um desses pontos.

A terceira o ocorrência foi a que mais esclareceu o que acontecia e paguei um preço caríssimo por esse conhecimento. Perdi minha Laura.
Era Março estávamos na casa dela e seus pais tinham viajado. Não consigo pensar em algo que não tenhmos feito, tomado, um tipo de filme pornô que não assistimos, ou qual sodomia faltou praticar. Festejávamos a vida do nosso jeito e eramos felizes ao som do rock progressivo enjoativo que tocava alto na sala. Estávamos no quarto quando a música ficou estranha, mesmo para os padrões daquilo que ouvíamos. Era desafinado, sem tempo, sinistro. Pedi para ela me esperar, desci as escadas para ver o que acontecia e antes de terminar o último lance de degraus vi em umcanto da sala algo que tinha meio metro de altura, uma boca de peixe aberta, olhos grandes escuros e mãos que terminavam em três dedos com garras longas. A coisa viscosa não moveu um músculo, apenas me observava. Eu em pânico e muito além da capacidade de raciocinar subi as escadas gritando pela Laura. Da porta do quarto dela escorria um largo fio de sangue. Parei. Eu não estava mais preocupado com o que aconteceria comigo, muito menos tinha coragem para descobrir o que aconteceu com ela. Nesse instante eu queria apenas acordar desse pesadelo interminável. Não ouvi nenhum som além daquela música infernal e o filete de sangue escorria livremente pelas escadarias.
Criei coragem e entrei no quarto. Lá vi minha Laura retorcida sobre o próprio corpo, caída sobre o que restou de umamesa de vidro. Pedaços enormes de vidro entraram no pescoço e na barriga dela, saindo do outro lado. Pra mim é tão difícil relatar essas coisas. As criaturas colhiam o sangue dela com as mãos e bebiam enquanto olhavam para mim. Aconteceram mais coisas, mas não consigo contar. Simplesmente não consigo.
Não suportei a visão por muito tempo e desmaiei. Não sei como, ou porquê, mas eles não tocaram em mim. Acordei em uma delegacia, me fizeram milhares de perguntas repetidamente e tive o bom senso de não falar nada sobre essas criaturas. Me prenderam por uns dias, mas concluíram que ela estava bêbada e simplesmente caiu na mesa de vidro. Também não sei como consegui encarar os pais dela, que com todo direito do mundo acreditam que eu sou o responsável pela morte da filha. Provas não faltaram de que estávamos ambos destruindo a casa deles com nossa depravação.
Algumas semanas depois disso tudo eu já não durmia mais, mal comia e raramente saia de casa. Virei a sombra da pessoa que fui um dia e enquanto comia meu milhonésimo miojo percebi o óbvio que essas coisas absurdas aconteciam sempre que eu estava entregue ao que alguma religião poderia chamar de “prazeres da carne”. Acredito que o mesmo aconteceu com o Pedro. Era uma resposta, mas como todas as outras trouxe mais dúvidas que eu tinha antes.
Resolvi pequisar na internet sobre o que acontecia e para o meu assombro encontrei algo. Em um fórum de imagens vi uma pintura que me fez tremer incontrolável enquanto eu analisava cada uma das três partes da tela. Ela mostrava com muitos detalhes o panorama de um jardim onde pessoas praticavam todas as formas possíveis de sacanagem. Na primeira parte havia apenas adão eva, um barbudo que devia ser jesus e um jardim enorme cheio de bichos, provavelmente o Éden. O painel seguinte continha uma infinidade pessoas se amando, com pássaros gigantes para todos os lados, criaturas mitológicas e muita gente feliz. Agora o terceiro era o inferno. Na parte de baixo havia o homem-coelho que vi, e também outros que vi no cemitério e na casa da Laura. Essa pintura foi feita por um tal Bosch, um louco. Se eu visse isso dois anos atrás ficaria fascinado com tanta criatividade, agora eu estou ainda apavorado com a possibilidade de tudo ali existir. Esse tal Bosch deve ter passado pelo mesmo que eu e registrou as “loucuras dele” com uma precisão maldita. Nas minhas pesquisas também descobri que recentemente descobriram uma música na bunda de um torturado no painel do inferno. Tocaram e gravaram essa música. Igual a que ouvi na casa da Laura.
Eu não aguento relatar mais nada. Estou esperando aquelas criaturas voltarem, irei atrás de respostas. Assim que eu souber de mais contarei aqui. Se eu não disser mais nada você sabe o que aconteceu caro leitor. Obrigado por me acompanhar até aqui

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